Em tempos de redes sociais, a reportagem ainda resiste

Redes sociais dominam o tempo de leitura dos usuários, mas as reportagens ainda têm vez quando a prioridade é informação

Leonencio Nossa

Longe das redes sociais: Leonencio Nossa é o jornalista de Sangue Político, uma série de reportagem vencedora do Prêmio Esso

Nos dias de hoje, com a disseminação do uso das redes sociais, onde todos dão notícia de tudo, quase sempre em caráter alarmante, é bom saber que ainda sobrevivem as grandes reportagens. Daquelas em que o jornalista, profissional que, por juramento, trata a informação com responsabilidade, se debruça sobre um assunto até que a sua última pergunta seja respondida. Um bom exemplo é “Sangue político”, escrita por Leonencio Nossa para o Estado de S. Paulo, vencedor do Prêmio Esso deste ano.

A reportagem, na verdade uma série de matérias publicada ao longo do mês de outubro, descreve uma intensa investigação sobre assassinatos ou tentativas, cujas motivações foram disputas políticas. Leonencio levantou que pelo menos 1133 crimes do tipo ocorreram no país entre 1979 e 2014. A apuração foi longa. Durou 17 meses e milhares de quilômetros, em trajetos por diferentes cidades, de 14 Estados. Foram dezenas de entrevistas com vítimas, advogados, prefeitos, vereadores, delegados.

A intenção do repórter era desvendar dados concretos de um assunto relevante para que a população possa pensar a respeito. “É preciso levantar o debate e discutir o problema até que se possa monitorar. Sem monitoramento você cria uma situação de impunidade total. Quando comecei a trabalhar no assunto, já tinha ideia de que era muito grave, mas não imaginei que tivéssemos tantos assassinatos e que eles ficam ser ter resolução”, explicou Leonencio ao Portal Comunique-se.

Menos redes sociais e mais jornalismo

Recentemente, Jorge Furtado, premiado diretor de cinema, lançou um documentário que eleva a importância de reportagens como “Sangue político” para o bom andamento da sociedade. “Mercado de notícias” traz o relato de grandes jornalistas, entre eles Mino Carta, publisher da Carta Capital, e Jânio de Freitas, do Conselho Editorial da Folha de S. Paulo, que tentam explicar qual o papel cabe à imprensa no meio das mudanças do século XXI. “Quando a internet começou a transformar não só o cinema, mas a TV, a indústria fonográfica e também o jornalismo, muita gente disse que não iríamos mais precisar do jornalismo porque todo mundo tem blog, Facebook, Twitter. Minha sensação foi exatamente oposta”, afirmou Furtado, em agosto, durante uma coletiva para divulgação do seu filme. “Eu acho que, agora, mais do que nunca, a gente precisa do jornalista profissional, que tenha um compromisso com a verdade”.

Nesses dias de mensagens alarmantes, que terminam com “REPASSEM COM URGÊNCIA”, assim mesmo, em caixa alta, é difícil não concordar com o que diz Jorge Furtado e com o que faz Leonencio Nossa. No mar de mentiras comprovadas e verdades inventadas, há um farol que ainda resiste nos bons jornais. Para o bem dos navegantes.

Por Thiago Silvério

Jornalista da Press Comunicação